Confira a entrevista que realizamos com as duas chapas
O Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET) inaugura mais um canal de divulgação de história com a coluna Ciência Pop no Portal de Notícias "Quando Acontece". Pesquisadores e pesquisadoras do Grupo publicarão entrevistas, matérias e vídeos sobre temas de história com o objetivo de divulgar as pesquisas da área.
Para marcar o lançamento da nova coluna, o GET publica duas entrevistas com as chapas "Confluências: Ensino, Pesquisa e Extensão" e "Compromisso e Luta" que concorrem à eleição da Associação Nacional de História (Anpuh), que acontecerá entre 15 e 17 de abril. Confira a entrevista que realizamos com as duas chapas.
Se você tem alguma sugestão de tema ou colaboração que gostaria de divulgar em nossa coluna, envie para [email protected].
Entrevista para o Grupo de Estudos do Tempo Presente (CNPq/UFS)
1. No Brasil, a maioria dos profissionais de história atua na educação básica e, em muitos casos, de forma precarizada. Reconhecendo a ANPUH como uma mediadora entre esses profissionais e a administração pública, quais serão os esforços e estratégias da gestão "Compromisso e Luta" para representar esses docentes e suas demandas perante o poder público?
Efetivamente, a chapa "Compromisso e Luta" é formada por integrantes que sofrem e resistem contra o processo de precarização na educação brasileira. Por isso, compomos a Chapa com professores da educação básica e contamos com um amplo apoio desses profissionais. Entendemos que a ANPUH Brasil tem um papel estratégico de fortalecer os fóruns de debate, e os espaços de luta que reúnem essas demandas. Demandas que estão associadas à precarização da História no currículo do novo Ensino Médio que a rebaixou a componente curricular. Nossa proposta é combater a redução de carga horária da disciplina de História, a precarização do ensino e as muitas situações de censura e assédio aos professores/as de História. Nesse sentido, vamos construir uma aproximação com os sindicatos, os fóruns de educação, a Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH) e o GT de Ensino de História e Educação nacional e de cada uma de nossas seções, entre outras, para pensarmos uma agenda de luta conjunta. A perspectiva é trabalhar de forma conjunta as diretorias de "Ensino de História e Formação profissional" dirigida por Angela Ferreira (ANPUH-PR) e "Ensino de História e Educação Básica" dirigida Arrovani Fonseca (ANPUH-SP). Ambos estão nos estados que tem sido epicentro das políticas de precarização, plataformização, militarização das escolas. Para assegurar maior mobilização dos profissionais do ensino e da sociedade em geral vamos, a partir do segundo semestre de 2025, promover uma ampla campanha em defesa da História e dos professores, o que pressupõe disponibilizar a associação através de seus canais de comunicação para debater essas demandas, promover encontros através do Fórum de Educação Básica, assim como estabelecer diálogo com as instâncias gestoras da educação como o MEC e a Secretaria de Educação Básica do Ministério. Com isso, se pretende que a ANPUH Brasil e as seções estaduais sejam canais de denúncia, e sobretudo de resistência aos ataques que a História e seus profissionais vêm sofrendo, mas que também se constituam como espaços estratégicos que mobilizem os professores e nos permita resistir na defesa da autonomia docente, do restabelecimento da obrigatoriedade do ensino de História e na valorização da educação pública.
2. Quais as propostas da Chapa "Compromisso e Luta" para promover a sustentabilidade financeira da ANPUH sem que isso implique em anuidades com valores elevados, sobretudo a historiadores ainda em formação e na busca de um lugar no mercado de trabalho? Há uma proposta para reinscrever antigos sócios ou para ampliar o número de filiados? (até 2.000 caracteres)
Atualmente a questão financeira é algo que, de fato, nos preocupa. Só para termos uma ideia quase metade de nossos associados estão inadimplentes. Isso não apenas fragiliza a ANPUH Brasil, como também as seções estaduais. Nesta atividade estratégica de gestão da associação que passa pela tesouraria teremos a colaboração de duas professoras, Cristiana da Rocha (ANPUH-PI) e Eleide Flyndlay (ANPUH-SC), experientes com gestão financeira. Para melhorarmos os índices de adimplência e chamarmos mais associados precisamos de uma associação forte no Brasil que é reflexo do fortalecimento da entidade nos estados. Para isso estamos propondo uma gestão mais próxima das demandas sociais apresentadas pelos nossos associados, o que significa uma priorização de ações que, de fato importa para a comunidade de historiadores e historiadoras, professores e professoras. Isso vai gerar maior identificação dessa comunidade com a associação. Precisamos também que as ANPUHs estaduais estejam fortalecidas, pois elas lidam diretamente com os nossos associados e são potenciais espaços de agregação de novos sócios. Nesse sentido, estamos propondo a retomada do protagonismo do Conselho Consultivo formado pelas seções estaduais como instância de diálogo e deliberativa, o que vai facilitar essa maior aproximação das demandas sociais com a pauta de atuação da ANPUH Brasil. Pensamos em reforçar campanhas de filiação, realizar promoções no valor do pagamento de anuidades e defendemos a inclusão de novas categorias de associados, como discentes de graduação. Incluir este segmento, que hoje se inicia na pesquisa na graduação, é uma forma de fortalecer vínculos que vão perdurar pela vida acadêmica e profissional. Além disso, vamos buscar meios para que a entidade promova retorno de atividades e ações aos associados que estejam além da realização de nossos eventos.
3. A divulgação científica de história tornou-se exigência na avaliação de projetos de pesquisa e na submissão de propostas às agências de fomento, além de estar cada vez mais presente nas atividades de publicação acadêmica da área. Como a chapa "Compromisso e Luta" pretende abordar essa questão? Há um planejamento de discussões e/ou propostas para a divulgação científica em história?
A divulgação científica tem sido uma preocupação e destaque na carta proposta da chapa "Compromisso e Luta". Sob a liderança da professora Vitória Fonseca (ANPUH-MG) a Diretoria de Comunicação e Divulgação Científica, em trabalho conjunto com a Diretoria de Cursos e História Púbica, sob a direção do professor Christiano dos Santos (ANPUH-RJ), estarão preocupadas em dinamizar os canais de comunicação da ANPUH Brasil para uso e aproveitamento das Anpuhs estaduais, dos Grupos de Trabalho e da rede de historiadores e historiadoras. A perspectiva é manter a divulgação de atividades da ANPUH para um público maior através das postagens nas redes sociais de cards, vídeos e textos envolvendo as principais efemérides e os debates e diálogos contemporâneos. Vamos manter os boletins informativos e o canal "História Aberta" em que a comunidade historiadora possa disponibilizar reflexões sob temas históricos e historiográficos. O "Selo Anpuh" que garante uma performance qualificada de cada profissional da história, deve ser aprimorado para facilitar o acesso à editoração de suas produções e produção científica acadêmica e não acadêmica, mas de interesse dos profissionais da história. Em trabalho conjunto com a Diretoria de Publicações, a ser dirigida pelo professor Julio Bentivoglio (UFES), deve ser criada uma coleção, em formato de e-book, com "Selo ANPUH" para publicar projetos de coletâneas propostos por associados, com apoio das estaduais e dos Grupos de Trabalho. Vale lembrar que este esforço inclui o campo da pesquisa em Ensino de História, que precisa obter a mesma consideração que todas as áreas e merece apoio isonômico para potencializar projetos de pesquisa que buscam apoio em agências de fomento. A ANPUH-BR conta ainda com duas revistas extremamente importantes no cenário dos periódicos científicos: a Revista Brasileira de História; e a Revista História Hoje. Nossa chapa tem a presença de dois pesquisadores experientes e com uma robusta trajetória no campo da pesquisa e da edição, que estarão frente da editoria dessas revistas, respectivamente os historiadores César Queirós, da ANPUH-MA, e Fernando Seffner da ANPUH-RS.
4. O negacionismo histórico tem se ampliado nas redes sociais e no debate público. Quais ações a chapa "Compromisso e Luta" propõe para fortalecer a divulgação científica da História e o diálogo com a sociedade? Diante desse desafio, a chapa pretende desenvolver ações em parceria com outras entidades acadêmicas, culturais e educacionais para fortalecer a valorização do conhecimento histórico?
Entendemos que o negacionismo não é um fenômeno fortuito, oriundo do desconhecimento histórico, pois integra projetos que distorcem o passado com fins políticos e apoio econômico. Por isso, seu enfrentamento não é uma tarefa casual, mas central em nosso tempo. Trata-se de fazer com que a sociedade (re)conheça e valorize o trabalho do historiador e seus métodos de pesquisa em seus compromissos éticos-políticos de defesa da História combate aos abusos e mentiras. Nessa árdua tarefa de combate ao negacionismo histórico a ANPUH Brasil precisa construir uma forte frente de enfrentamento. Para isso é fundamental o apoio e aproximação das associações científicas de nossa e de ouras áreas de conhecimento, associações, dos Grupos de Trabalho e demais entidades que agregam historiadores e historiadoras. Atualmente temos aproximadamente 27 Grupos de Trabalho vinculados a associação, o que exige de nossa entidade uma ação coordenada no combate ao negacionismo. Para isso, vamos precisar atuar com a Diretoria de Assuntos Profissionais e Relações Instituições, dirigida pela professora Karina da Silva e Melo (ANPUH-PE) na construção de uma agenda conjunta que nos permita estabelecer a defesa do conhecimento histórico e do método científico que pauta a sua construção, não dissociada da luta pela valorização da história ensinada e da disciplina da história no currículo escolar. Nesse sentido, a ANPUH deve estar atenta a defesa do professor, da liberdade de ensinar e aprender, do direito a história e da história escolar. Deve estar aberta a múltiplas demandas democráticas, as propostas epistemológicas diversas, sendo palco de debate e controvérsias, mas principalmente espaço de defesa da ciência e da história como fundamentais para o exercício da democracia. Por fim, é preciso considerar que o combate ao negacionismo se vincula à luta pela constituição e preservação dos arquivos históricos, com ações de gestão de documentos e do fortalecimento destas instituições enquanto arquivos públicos, fundamentais para memória e a cidadania.
A chapa Confluências assume, com convicção, que os/as professores/as da educação básica devem ocupar lugar central na ANPUH. São a maioria da categoria, e apesar de algumas ações, têm sido historicamente pouco escutados/as e enfrentam um cotidiano de precarização, invisibilidade e esvaziamento curricular. É urgente reafirmar a necessidade de atenção mais sistemática e ativa aos espaços da Educação Básica - redes municipais, estaduais e federais - pois é neste campo que se encontra a maior parte da nossa inserção profissional. A escola básica é o espaço onde se dá o primeiro contato de estudantes com o conhecimento histórico, sendo que a forma como a história é ensinada, debatida e vivenciada nas salas de aula influencia na formação histórica coletiva.
Nossa gestão atuará para transformar esse cenário de afastamento, convidando-os/as a contribuírem na elaboração e na participação direta em eventos, trazendo suas especificidades e demandas. Implementaremos canais permanentes de escuta e ação com docentes da educação básica, em articulação com as seções estaduais. Propomos uma reconfiguração da Revista História Hoje para que acolha saberes docentes diversos, relatos de práticas e reflexões vindas das experiências cotidianas, com reconhecimento editorial e institucional. Também criaremos ações de formação e valorização profissional, aproximando a ANPUH de secretarias de educação, programas profissionais como o ProfHistória e demais fóruns de debate sobre políticas públicas e saúde mental.
Não basta reconhecer a relevância desses/as profissionais: é preciso enfrentar a dicotomia historiador/a-professor/a, pois compreendemos os espaços da educação básica como um dos principais lugares de debates histórico-científicos para a sociedade, por meio da atuação dos/as historiadores/as-docentes. O compromisso é representar suas demandas com presença ativa nos espaços decisórios, e propostas construídas com o protagonismo deles/as, e não somente para eles/as.
A sustentabilidade financeira da ANPUH depende de equilíbrio entre responsabilidade orçamentária e fortalecimento da base associativa. Sabemos que a anuidade pesa, sobretudo para estudantes e docentes precarizados/as. Por isso, propomos uma política de filiação mais inclusiva, com revisão das categorias e valores, estratégias de refiliação, com campanhas nacionais e estímulo à participação via seções estaduais.
Queremos ampliar os vínculos com quem se afastou e atrair novos/as associados/as oferecendo benefícios concretos: acesso a cursos, conteúdos exclusivos, apoio a eventos regionais e valorização da produção historiadora em sua diversidade. Nossa gestão também vai revisar os processos internos de captação de recursos, buscando parcerias institucionais e estratégias que não onerem as pessoas filiadas.
A filiação à ANPUH precisa voltar a fazer sentido não apenas como obrigação formal, mas como um gesto de pertencimento, fortalecido por políticas de escuta, reconhecimento e valorização.
A comunicação e a divulgação científica em história será um eixo estruturante da gestão Confluências. Mais do que uma necessidade para a boa vida da associação, ela expressa nosso compromisso com o direito à história, a circulação pública do conhecimento e o fortalecimento do vínculo entre historiadores/as e sociedade.
Propomos a criação de uma plataforma informacional que integre e fortaleça a iniciativa já operante do portal "História Aberta!" e do Saberes Históricos. Essa plataforma não deve ser apenas uma vitrine ou um repositório de materiais, mas uma prática como uma comunidade federada, de fato. Um espaço vivo, horizontal, que articule comunicação contínua entre seções estaduais e GTs, mas também entre diferentes segmentos da categoria: docentes da educação básica e técnica, profissionais de faculdades privadas, dos Institutos, estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores/as em formação.
Essa plataforma será construída em diálogo com todas as diretorias da ANPUH, pois entendemos a comunicação e a divulgação científica como dimensões transversais.
A criação de encontros virtuais, com a participação de docentes e discentes, tanto da Educação Básica, dos Institutos e das universidades públicas e privadas, procurará promover o compartilhamento de conhecimento, fruto de processos dialógicos nos diferentes espaços. Para isso, o letramento digital também será tema e prática fundamental nas diversas conversas, oficinas e cursos.
Defender a divulgação é defender a legitimidade epistêmica da História. Vamos ampliar a presença da ANPUH nos fóruns nacionais, como o Fórum das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (FCHSSALLA), em defesa dos métodos e valores das Humanidades frente às diversas ameaças regulatórias que afetam não apenas questões financeiras, mas éticas. A comunicação será, sob nossa gestão, uma política ativa de presença, memória e transformação.
A chapa Confluências parte do princípio de que enfrentar o negacionismo histórico exige articulação ampla, coragem institucional e presença pública consistente. Para isso, propomos ações estruturadas que valorizem a história como conhecimento crítico, como prática profissional e como direito social.
Vamos retomar e fortalecer a presença da ANPUH nos conselhos e fóruns onde já temos representação como o IPHAN, o CONARQ e o Fórum Nacional em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro e ampliar esse escopo a partir de parcerias com entidades como a Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH), universidades, redes de ensino, movimentos sociais, museus, arquivos e instituições culturais. Manifestar-se e contribuir, a partir de ações coletivas com a comunidade historiadora, sempre que necessário, com as pautas em defesa da democracia e dos direitos humanos.
Entendemos que o ensino e a extensão são canais essenciais para o diálogo com a sociedade. Por isso, propomos o fortalecimento das seções dedicadas ao debate sobre metodologias inovadoras, práticas docentes e experiências em sala de aula, especialmente na educação básica. Acreditamos que a curricularização da extensão, em curso nas universidades públicas, abre uma oportunidade valiosa para tornar o conhecimento histórico acessível a públicos mais amplos, conectando projetos de ensino, pesquisa e atuação comunitária.
Queremos, ainda, manter e incentivar novas ações de história pública, rodas de conversa, oficinas, podcasts, exposições, publicações e campanhas digitais articuladas com os Grupos de Trabalho e as seções estaduais da ANPUH, potencializando as experiências locais/regionais e promovendo ações conjuntas com historiadores e historiadoras que atuam fora da academia.
Nosso compromisso é claro: não vamos apenas denunciar o negacionismo, vamos enfrentá-lo com ação articulada com as diversas formas de produzir e partilhar a História.
Mais nossas propostas e compromissos aqui: https://linktr.ee/confluenciasanpuh